Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

sexta-feira, novembro 28, 2008

Se vira nos trinta!

Dois dias após completar 30 anos sinto a necessidade de um post que relate as sensações dessa entrada na vida balzaquiana. Será difícil separar o fato de que entro na idade nova gerando um filho. Isso por si só já muda tudo, mas existem outras coisas... E é delas que vou falar.
Pela primeira vez senti o peso da idade. Eu, a maior entusiasta de comemorações de aniversário, celebrei esse ano de forma diferente. Reflexiva e reservada. Trinta anos ( e mãe)!
O corpo já não é mais o mesmo, essa é a mudança mais nítida, os primeiros sinais dos tempos já fazem parte e conferem certo charme de mulher madura. Aprende-se a gostar dele como ele é e portanto fica-se naturalmente mais bonito, com seus defeitos e não apesar deles. É a hora de aprender a cuidar dele enquanto é tempo! Viva os cremes, drenagens, academia e alimentação equilibrada! E o oensamento positivo!
Sou definitivamente uma pessoa melhor aos 30 do que aos 20. Menos egoísta, mais atenta às necessidades do mundo, mais consciente dos próprios defeitos e portanto menos suscetível a eles. O que antes me matava, hoje me fortalece. Menos hipócrita e mais careta. Ah, e menos corajosa, pois agora há mais coisa em risco do que apenas meu umbigo.
Sinto-me com o mesmo gás dos 20 anos, desde que eu tenha foco e direcione essa energia vital para o ponto e objetivo certos. É como se eu tivesse passado a vida toda na estrada, a 200 km por hora, mas rodando em círculos, sem rumo, e agora eu finalmente saiba como e onde chegar. E de brinde aprendi a apreciar o caminho.
Amigos... Mais exigente e seletiva. Prefiro os poucos e bons ao muitos de qualidade duvidosa de outrora. E hoje sei a real importância de sua existência em minha vida, que vai muito além das baladas regadas a álcool ( embora isso também faça SIM parte e seja inquestionavelmente delicioso). Mas hoje quero um(a) amigo(a) para olhar no olho, para chorar no ombro, para compartilhar alegrias e tristezas.
As responsabilidades já não são um fardo tão dificil de carregar. Embora só aumentem a cada dia, servem para direcionar e centrar. Algumas delas, são até agradáveis ( outras continuam irremediavelmente chatas).
Claro que há o lado ruim da idade. Estou mais chata, com mais manias. Menos animada para sair e quando saio o sono vem antes da hora. O corpo não é o mesmo e embora aprenda-se a gostar dele mesmo assim, obviamente em sã consciência ninguém trocaria a firmeza do corpinho dos 18 pela dos 30 ( a não ser que você tenha entrado na malhação e transformado seu corpo).

Mas por ora, o balanço é positivo. E que venham os 30!

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terça-feira, novembro 11, 2008

Nem em sonho

* Mais um exercício da Oficina. Tarefa: usar a frase " Ninguém deve cometer o mesmo erro duas vezes. A possibilidade de escolha é muito grande.”

O despertador tocou e me levantei automaticamente, sem ao menos rolar um pouco na cama. Me vesti e segui para a redação da revista como fazia todos os dias. Ao longo do trajeto Paulista-Rebouças, sentei na janelinha do ônibus e me coloquei a observar o intenso movimento matinal. Uma estranha sensação tomava conta de mim, como se eu estivesse me repetindo, re-vivendo.
O dia passou mecanicamente até que me lembrei do que aconteceria naquela noite. Foi como se uma luz tivesse sido acesa na escuridão do meu cérebro e tudo passasse a fazer sentido.
Há três meses eu não o via. O último encontro havia sido selado com um beijo triste, com gosto amargo de adeus. Depois disso, alguns telefonemas e muitas noites sem dormir. A angústia do abandono e da solidão oprimiram meu coração todas as noites, até a notícia de que ele viria naquela noite para festa. Minhas noites então se encheram de esperança e passei a viver à espera daquele momento, que enfim tinha chegado. Eu precisava olhar em seus olhos, ouvir sua voz, explicar, entender.
Decidi ir até lá sozinha. Nenhuma amiga aprovava minha missão kamikase de reencontrar o ex e a última coisa que eu queria era alguém me dizendo para fazer exatamente o oposto daquilo que meu coração desesperadamente implorava para que eu fizesse. A caminho da balada sorvi doses cavalares de vodcka com clight de tangerina. Uma vã tentativa de amortecer os sentidos e me preparar para o que estava por vir.
Entrei na boate já meio trôpega e precisei fazer uso de técnicas de respiração de yoga para tentar acalmar meu coração, que aos saltos ameaçava me sair pela boca e cair no meio da pista. Eu já não conseguia dizer se estava tomada pela emoção ou pelo álcool. E desse jeito, com a mente atrapalhada e a visão turva, dei de cara com ele logo de entrada. Ele abriu um sorriso e soltou sem pensar duas vezes:
- Oi! Você veio!!??
Antes que eu pudesse responder, seu sorriso amarelou e pude avistar um vulto loiro abraçando-o por trás. Ele estava acompanhado! Senti minha maquiagem derreter, meu coração diminuir até ficar do tamanho de um feijão e o sangue fugir do meu cérebro e se concentrar no coração, que o bombeava a milhares de batimentos por segundo.
Uma amarga sensação de déja vu me invadiu. E assisti as cenas seguintes como em um filme com a tecla FF do DVD acionada: Eu murmurando no seu ouvido, eu chorando no banheiro, eu e eles por acaso no mesmo minúsculo ambiente VIP, ele me dizendo pra ficar na minha, eu correndo pela boate que nem louca, tropeçando; a suprema humilhação: os amigos dele me consolando e finalmente eu dentro de um táxi soluçando sem conseguir passar meu endereço para o motorista. Tudo isso em menos de 10 segundos.
Foi tempo suficiente para eu decidir que não queria re-viver aquele redemoinho de emoções. Respirei fundo e devolvi o sorriso amarelo:
-Oi, tudo bem? Essa é sua nova namorada? Me apresenta... Marina? Prazer! Boa sorte viu? Você vai precisar. Ah, Luiz , e antes que eu me esqueça, vá a merda!!!!!!!!!
Virei às costas e saí desfilando com um sorriso gigante estampado no rosto e uma deliciosa sensação de alma lavada.

De repente, enquanto eu saía da boate escutei um barulho estridente. Era meu despertador tocando. Acordei. Tinha sido um sonho, mas eu estava feliz. Nem em sonho eu repeti aquela cagada. “Ninguém deve cometer o mesmo erro duas vezes. A possibilidade de escolha é muito grande.”

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Os bebês não são todos iguais

* Primeiro exercício da Oficina de Crônica

Fabiana Marques Cáceres

Eram dez horas da noite quando o trabalho de parto começou. A mãe estava tranqüila, serena, com a segurança de que faz isso pela terceira vez. O pai, ao contrário, parecia bem mais ansioso, para ele é como sempre fosse a primeira vez. Impotente e mero expectador.
Dr. Agash, o simpático médico de origem indiana, acompanhou tudo de perto, mas praticamente não precisou interferir em nada, já que o parto aconteceu sem qualquer tipo de complicação. Quando o bebê finalmente apareceu, cerca de seis horas depois, o silêncio tomou conta da sala de parto. O bebê, um menino grande e forte, não chorava por conta própria e a equipe médica precisou levá-lo. Dali alguns segundos os pais ouviram seu choro e emocionados puderam relaxar. No entanto, Dr. Agash, não estava tranqüilo. Trinta anos de experiência lhe diziam que havia algo errado com a criança. O tamanho um pouco desproporcional dos órgãos sexuais e a implantação levemente mais baixa das orelhas indicavam um espécie rara de síndrome, mas antes de dizer qualquer coisa aos pais, preferiu fazer o teste. Não viu sentido em preocupá-los antes da hora, podia ser um engano, embora duvidasse disso.
O bebê voltou aos braços da mãe, agora já limpo. Chamaram-no Jonathan. Ao colocar seu corpinho quente próximo de si, a mãe suspirou, enquanto esquadrinhava o filho em busca de sinais de normalidade. Pareceu sentir que havia algo diferente e buscou o marido com o olhar. Este apenas sorriiu, feliz com o nascimento de um filho homem.
Duas horas depois, Dr. Agash voltou ao quarto, com um ar triste, diferente do brilho empolgado que exibia normalmente. A mãe, novamente, pressentiu. Não havia uma forma melhor de dar a notícia, portanto ele preferiu ser direto. O filho sofria de uma síndrome raríssima, chama de Síndrome de Beckwith. Não poderia se alimentar sozinho, precisaria de cuidados extras, provavelmente seu desenvolvimento motor seria insuficiente e havia uma pequena possibilidade de um leve retardo mental.


Sem ar, o pai buscou a janela. Seus soluços foram ouvidos desde o corredor. A mãe, resignada, chorou em silêncio e apenas pediu para ver o filho. As enfermeiras o trouxeram e ensinaram aos pais como alimentá-lo, através de um tubo, já que ele não tinha forças para sugar o peito da mãe. Era bonito, mas não se podia negar que possuía um ar estranho, distante. Pouco a pouco os pais começaram a brincar com o menino, enchendo-lhe de beijos e carinhos, falando-lhe com ternura. Era seu filho, fosse como fosse, o amavam de forma incondicional e um pouco doentia, como só os pais sabem amar.
No dia seguinte, foram embora do hospital. O médico abraçou-os, sempre nutria um carinho especial por famílias assim. Achou o bebê mais bonito, menos estranho. Teve certeza que teria o melhor desenvolvimento possível. Observou-os partir. Mãe, pai, dois filhos mais novos e um bebê. Uma família normal, feliz com a chegada de um novo membro. Sabiam que teriam uma batalha pela frente, lutariam contra o desconhecido. Mas não sofriam nem se lamentavam. Sabiam que seria diferente, mas a mãe pensou : “os bebês não são todos iguais”.

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