Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

terça-feira, novembro 11, 2008

Os bebês não são todos iguais

* Primeiro exercício da Oficina de Crônica

Fabiana Marques Cáceres

Eram dez horas da noite quando o trabalho de parto começou. A mãe estava tranqüila, serena, com a segurança de que faz isso pela terceira vez. O pai, ao contrário, parecia bem mais ansioso, para ele é como sempre fosse a primeira vez. Impotente e mero expectador.
Dr. Agash, o simpático médico de origem indiana, acompanhou tudo de perto, mas praticamente não precisou interferir em nada, já que o parto aconteceu sem qualquer tipo de complicação. Quando o bebê finalmente apareceu, cerca de seis horas depois, o silêncio tomou conta da sala de parto. O bebê, um menino grande e forte, não chorava por conta própria e a equipe médica precisou levá-lo. Dali alguns segundos os pais ouviram seu choro e emocionados puderam relaxar. No entanto, Dr. Agash, não estava tranqüilo. Trinta anos de experiência lhe diziam que havia algo errado com a criança. O tamanho um pouco desproporcional dos órgãos sexuais e a implantação levemente mais baixa das orelhas indicavam um espécie rara de síndrome, mas antes de dizer qualquer coisa aos pais, preferiu fazer o teste. Não viu sentido em preocupá-los antes da hora, podia ser um engano, embora duvidasse disso.
O bebê voltou aos braços da mãe, agora já limpo. Chamaram-no Jonathan. Ao colocar seu corpinho quente próximo de si, a mãe suspirou, enquanto esquadrinhava o filho em busca de sinais de normalidade. Pareceu sentir que havia algo diferente e buscou o marido com o olhar. Este apenas sorriiu, feliz com o nascimento de um filho homem.
Duas horas depois, Dr. Agash voltou ao quarto, com um ar triste, diferente do brilho empolgado que exibia normalmente. A mãe, novamente, pressentiu. Não havia uma forma melhor de dar a notícia, portanto ele preferiu ser direto. O filho sofria de uma síndrome raríssima, chama de Síndrome de Beckwith. Não poderia se alimentar sozinho, precisaria de cuidados extras, provavelmente seu desenvolvimento motor seria insuficiente e havia uma pequena possibilidade de um leve retardo mental.


Sem ar, o pai buscou a janela. Seus soluços foram ouvidos desde o corredor. A mãe, resignada, chorou em silêncio e apenas pediu para ver o filho. As enfermeiras o trouxeram e ensinaram aos pais como alimentá-lo, através de um tubo, já que ele não tinha forças para sugar o peito da mãe. Era bonito, mas não se podia negar que possuía um ar estranho, distante. Pouco a pouco os pais começaram a brincar com o menino, enchendo-lhe de beijos e carinhos, falando-lhe com ternura. Era seu filho, fosse como fosse, o amavam de forma incondicional e um pouco doentia, como só os pais sabem amar.
No dia seguinte, foram embora do hospital. O médico abraçou-os, sempre nutria um carinho especial por famílias assim. Achou o bebê mais bonito, menos estranho. Teve certeza que teria o melhor desenvolvimento possível. Observou-os partir. Mãe, pai, dois filhos mais novos e um bebê. Uma família normal, feliz com a chegada de um novo membro. Sabiam que teriam uma batalha pela frente, lutariam contra o desconhecido. Mas não sofriam nem se lamentavam. Sabiam que seria diferente, mas a mãe pensou : “os bebês não são todos iguais”.

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1 Comments:

Blogger frapê said...

Puxa, querida, que bonito, ainda mais vindo de uma grávida! Muitos beijos aos dois!!!

4:16 PM  

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