O que significa se sentir latino-americano?
Caiu em minhas mãos durante esse Carnaval o livro "Dicionário Amoroso da América Latina", de Mario Vargas Llosa. O livro traz verbetes para nomes e lugares da América Latina, mas mais importante do que isso, eterniza um sentimeno que muitos têm sem se dar conta. O amor a esse complexo pedaço do mundo denominado América Latina.
Desde os tempos de intercâmbio, pude experimentar o sentimento de igualdade ( e irmandade) que existe entre nós. Os primeiros a me acolherem no Estados Unidos foram os mexicanos. Que certamente viam em mim um pouco deles. Embora eu não me identificasse tanto assim (era extremamente americanizada), nutria por eles aquele sentimento de respeito incondicional, mais ou menos o que sentimos por primos distantes que só vemos no Natal. Difícil explicar, mas fácil de entender vivendo.
Ao longo dos anos, e de lá para cá são mais de dez, o interesse pelo continente e seus tesouros ( na literatura Garcia Marquéz e Isabel Allende, no cinema Alejandro Iñarritu e Juan Jose Campanella para ficar nos expoentes máximos) só cresceu e passei a dimensionar que esse sentimento de "amor" aos hermanos era algo palpável e embasado. Descobri a América Latina.
Segundo Vargas Llosa, as fronteiras nacionais não refletem as verdadeiras diferenças existentes. Essas se dão no seio de cada país, e de maneira transversal, englobando regiões e grupos de países.
No fundo, somos um só.
Não é preciso ser nenhum expert em sociologia, antropologia e história para perceber o quanto o caminho que cada país traça é parecido. As ditaduras, o populismo, o subdesenvolvimento, a corrupção nos governos, a mestiçagem, o abismo astronômico entre ricos e pobres, a marginalização, o baixo índice de alfabetização e a imigração. Do outro lado o povo guerreiro, as cores, a música, a alegria e o talento para as artes. É exatamente nessa diversidade multicultural e multifacetada que reside a nossa grande riqueza. E seu resultado é o paradoxo da abissal contradição existente entre a realidade política e social e sua produção literária e artística. O estimulante desafio que se descortina é a preservação dessa unidade respeitando as particularidades de cada país.
Voltando então à pergunta-título: O que significa se sentir latino-americano?
Ter a consciência de que as demarcações territoriais de nossos países são artificias e que nosso denominador comum é muito mais forte do que as diferenças particulares. Que estas nos enriquecem e fortalecem e tirar proveito disso!