Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

quinta-feira, setembro 18, 2008

O velho e os passarinhos

Seu Inércio levantou mais cedo que de costume, antes das cinco e meia já estava de pé conversando com seus canarinhos. Não dormiu bem, remoendo a briga com a vizinha no dia anterior. Refletiu que ele deveria ter sido mais ponderado, afinal tinha 72 anos, mas o tempo lhe parecia arrancar a paciência. Além disso, dona Maria, a vizinha, era chata de doer.
O céu começou a clarear, tingindo-se de tons róseos e seus passarinhos deram início à sinfonia matinal. Para seu Inércio, aquele era o melhor momento do dia. Seus canários, tico-ticos e coleirinhas eram os únicos que lhe entendiam. Desde sua aposentadoria, passou a se dedicar à criação das aves. Vez ou outra vendia um exemplar a um amigo, mas seu maior prazer era mesmo tê-los em casa e ouvi-los cantar. Com a prática, passou a entender do assunto, virou referência na vizinhança.
Estava perdido em seus pensamentos, alimentando os canarinhos, quando ouviu a campainha tocar. Não conseguiu imaginar quem poderia ser tão cedo. Arrastou as chinelas até a porta e surpreendeu-se ao dar de cara com três policiais armados, dizendo estar ali para investigar uma denúncia anônima. Perguntaram pelos passarinhos e foram guiados por um seu Inércio pálido e trêmulo.
Já nos fundos da casa, a presença dos policias causou alvoroço nas dezenas de pássaros. Gritaram todos juntos, em protesto. Após rápida análise, os homens fardados se identificaram como agentes da Polícia Ambiental e informaram que teriam de levar os animais embora, já que não havia autorização do Ibama para que eles fossem criados ali. “Meus passarinhos! Não posso viver sem eles. É tudo culpa da dona Maria”, pensou o aposentado. Precisaram ampará-lo, pois ele quase desfaleceu ali mesmo. Enquanto os homens iam colocando seus canários, tico-ticos e coleirinhas em gaiolas especiais, seu Inércio reclamou de dor no peito. Alegou não estar se sentindo bem. Chamaram a ambulância.
Quando os paramédicos chegaram, o barulho dos passarinhos era infernal, uma algazarra difícil de suportar. Os policias ameaçaram sair do quintal com as gaiolas e foi então que seu Inércio caiu duro no chão. Mediram-lhe o pulso, mas já era tarde, seu Inércio tinha acabado de morrer de tristeza. Os canários, tico-ticos e coleirinhas imediatamente se calaram e deles nunca mais ninguém ouviu um pio.

sábado, setembro 13, 2008

Frase

Copio do blog de uma amiga antiga que reencontrei essa semana:

"Reencontrar velhos amigos é como reencontrar uma parte de mim que eu já tinha esquecido que existia. "

Trânsito de Ribeirão

Hoje em dia, trafegar com seu carro pelas ruas da cidade pode vir a ser tarefa das mais estressantes. Até mesmo quando se vive em Ribeirão Preto. Obviamente o trânsito não chega nem perto da loucura das ruas paulistanas, mas há momentos de tráfego intenso e pequenos congestionamentos, especialmente na hora do rush.Mas esse não é o principal problema, há uma lista de coisinhas desagradáveis que vem a frente disso.
No topo da lista: estacionar o carro no sol. Muitas vezes é impossível encontrar um estacionamento ou uma vaga na sombra e então faz-se necessário parar o carro no sol escaldante de 37 graus - em pleno inverno! Dá para imaginar o que é voltar a esse carro, algumas horas ou minutos depois? Dor de barriga, mal estar, dor de cabeça, sensação de sufocamento, são alguns dos possíveis sintomas. E o ar-condicionado? Não sei se melhora ou piora... Você coloca no máximo da potência, sobe todos os vidros e... nada! Passam-se alguns segundos, você já está achando que vai morrer de calor ali mesmo e pensa: será que abro o vidro? Então abre, sente o bafo quente vindo da rua e fecha correndo de novo. O motor do carro começa a gritar ( tamanho esforço pra gelar o pequeno inferno que virou seu possante), mas nada de refrescar. De repente, você começa a sentir aquele arzinho esfriando; "daqui uns dois minutos vai ficar bom", mas então você já chegou ao seu destino, tão suado e calorento como se tivesse ido a pé.
No segundo lugar da lista, os outros motoristas. Após viver em São Paulo por 7 anos, posso afirmar que aqueles por trás da direção aqui em Ribeirão são de dar vergonha a qualquer motorista acostumado com o trânsito da paulicéia desvairada. Dar seta? Para quê, se eles podem mudar de idéia a qualquer minuto? O ideal é virar bem em cima mesmo, assustando e quase causando acidentes. Sinal vermelho? Pode ser um ônibus, uma moto, um carro, numa avenida de grande movimento ou em uma ruela de bairro. O tal sinal só passa a valer depois de uns 30 segundos, até então é liberado passar e azar de quem respeita.
Por fim, uma das coisas que mais me perturba: a distribuição descontrolada de panfletos em faróis. Especialmente anunciando as melhores casas de condomínio do mundo ( bom para morar e para investir). Mal você desacelera seu carro e uma chuva de panfleteiros invade sua janela. Se ela estiver fechada, sorte sua que pode simplesmente ignorar. Mas se estiver aberta... Tem que lidar com o olhar dos pobres trabalhadores, expostos ao sol em horário de pico e dizer com toda simpatia "não, obrigado", para em seguida se sentir a pior pessoa do mundo. Ou então, sorrir abertamente e acumular pilhas e mais pilhas de papéis e se sentir a pessoa mais burra do mundo por não conseguir dizer não.

Ah, o nosso trânsito. É de pirar qualquer um!