Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

terça-feira, novembro 11, 2008

Nem em sonho

* Mais um exercício da Oficina. Tarefa: usar a frase " Ninguém deve cometer o mesmo erro duas vezes. A possibilidade de escolha é muito grande.”

O despertador tocou e me levantei automaticamente, sem ao menos rolar um pouco na cama. Me vesti e segui para a redação da revista como fazia todos os dias. Ao longo do trajeto Paulista-Rebouças, sentei na janelinha do ônibus e me coloquei a observar o intenso movimento matinal. Uma estranha sensação tomava conta de mim, como se eu estivesse me repetindo, re-vivendo.
O dia passou mecanicamente até que me lembrei do que aconteceria naquela noite. Foi como se uma luz tivesse sido acesa na escuridão do meu cérebro e tudo passasse a fazer sentido.
Há três meses eu não o via. O último encontro havia sido selado com um beijo triste, com gosto amargo de adeus. Depois disso, alguns telefonemas e muitas noites sem dormir. A angústia do abandono e da solidão oprimiram meu coração todas as noites, até a notícia de que ele viria naquela noite para festa. Minhas noites então se encheram de esperança e passei a viver à espera daquele momento, que enfim tinha chegado. Eu precisava olhar em seus olhos, ouvir sua voz, explicar, entender.
Decidi ir até lá sozinha. Nenhuma amiga aprovava minha missão kamikase de reencontrar o ex e a última coisa que eu queria era alguém me dizendo para fazer exatamente o oposto daquilo que meu coração desesperadamente implorava para que eu fizesse. A caminho da balada sorvi doses cavalares de vodcka com clight de tangerina. Uma vã tentativa de amortecer os sentidos e me preparar para o que estava por vir.
Entrei na boate já meio trôpega e precisei fazer uso de técnicas de respiração de yoga para tentar acalmar meu coração, que aos saltos ameaçava me sair pela boca e cair no meio da pista. Eu já não conseguia dizer se estava tomada pela emoção ou pelo álcool. E desse jeito, com a mente atrapalhada e a visão turva, dei de cara com ele logo de entrada. Ele abriu um sorriso e soltou sem pensar duas vezes:
- Oi! Você veio!!??
Antes que eu pudesse responder, seu sorriso amarelou e pude avistar um vulto loiro abraçando-o por trás. Ele estava acompanhado! Senti minha maquiagem derreter, meu coração diminuir até ficar do tamanho de um feijão e o sangue fugir do meu cérebro e se concentrar no coração, que o bombeava a milhares de batimentos por segundo.
Uma amarga sensação de déja vu me invadiu. E assisti as cenas seguintes como em um filme com a tecla FF do DVD acionada: Eu murmurando no seu ouvido, eu chorando no banheiro, eu e eles por acaso no mesmo minúsculo ambiente VIP, ele me dizendo pra ficar na minha, eu correndo pela boate que nem louca, tropeçando; a suprema humilhação: os amigos dele me consolando e finalmente eu dentro de um táxi soluçando sem conseguir passar meu endereço para o motorista. Tudo isso em menos de 10 segundos.
Foi tempo suficiente para eu decidir que não queria re-viver aquele redemoinho de emoções. Respirei fundo e devolvi o sorriso amarelo:
-Oi, tudo bem? Essa é sua nova namorada? Me apresenta... Marina? Prazer! Boa sorte viu? Você vai precisar. Ah, Luiz , e antes que eu me esqueça, vá a merda!!!!!!!!!
Virei às costas e saí desfilando com um sorriso gigante estampado no rosto e uma deliciosa sensação de alma lavada.

De repente, enquanto eu saía da boate escutei um barulho estridente. Era meu despertador tocando. Acordei. Tinha sido um sonho, mas eu estava feliz. Nem em sonho eu repeti aquela cagada. “Ninguém deve cometer o mesmo erro duas vezes. A possibilidade de escolha é muito grande.”

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1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ameeeei!! Muito bom deusa mae!
beijoS

8:56 PM  

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