Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

quarta-feira, abril 23, 2008

São Paulo no feriado, existe coisa melhor?

São Paulo... Minha cidade natal, minha casa, minha terra. Assolada por todos os tipos de problemas - agora até terremoto- a cidade continua exercendo toda sua influência em mim. Lá me encho de esperanças diante das infinitas possibilidades do mercado, de todos os mercados. Fico satisfeita com as opções de lazer, a sensação de estar no centro do mundo, onde tudo acontece. Sinto-me de volta aos velhos tempos ao caminhar algumas quadras além de meu prédio. Tantas memórias, tantas histórias.
O final de semana foi delicioso. Com direito a reencontros com amigos queridos, despedida de uma amiga corajosa e talentosa, momento família no antigo Simba Safári - programa bacanérrimo para todos os gostos e bolsos-, o MELHOR bolo de chocolate do mundo segundo s portugueses, baladinha gay ( estava com saudade de ver os homossexuais livres, leves e soltos, acreditem se quiser), reunião das super poderosas e a tradicional pizza.

São Paulo no feriado, existe coisa melhor?

Marcadores: ,

terça-feira, abril 15, 2008

Dicas de leitura

Tenho uma estante farta de livros à minha disposição. Me falta é tempo para lê-los. O último: A distância entre nós, de Thrity Urigar. Fui surpreendida pela sutileza dolorida desse livro. Sem muito alarde na imprensa brasileira, o romance figurou muito tempo na lista dos dez mais e eu finalmente me rendi à ele. A história se passa na India ( estou obcecada com literatura estrangeira de países exóticos!!), país de origem da autora e conta a história de vida de duas mulheres indianas de castas diferentes, mas que estão muito ligadas. A narração paralela de suas vidas, os pontos comuns e a forte conexão distanciada ( daí o título) sempre pela inexplicável discriminação entre as castas, me tocaram profundamente. Li o livro em cinco dias , atravessando madrugadas, só parando quando o sono vencia. Recomendo!

Marcadores: , , ,

Preferência

Desde quando conheci meu marido, sempre o ouvi dizer: " Vamos dar preferência ao Fulano". Essa frase nunca fez muito sentido para mim, era mais uma daquelas coisas que a gente faz sem entender o porquê. Às vezes, cofesso, me irritava. " Para que desviar do meu caminho e ir lá no Fulano se posso comprar a mesma coisa aqui do lado?" eu perguntava. "Porque a gente tem que dar preferência aos nossos amigos", era sempre a resposta.
No meu mundo até então, de jornalista, essa tal preferência nunca existiu. Preferência em que? Alguns amigos poderiam até comprar a revista ou jornal para ler minhas matérias, mas o que isso mudaria na minha via? Na assessoria de imprensa um colega da redação poderia até me favorecer um dia, dando preferência a um assessorado em determinada pauta. Raro e talvez um pouco antiético, não?
Enfim... Há um ano me tornei, meio sem querer, além de jornalista, microempresária. Eu e meu marido temos agora uma livraria. Embora vender livros soe glamouroso, na verdade é um comércio como qualquer outro. Admirável é a mudança de olhar de uma jornalista ao ter seu próprio negócio. Observo cada loja, cada empreendimento com uma visão não apenas de consumidor, mas de colega. Analiso o que há de bom e ruim, o que posso aplicar na minha loja e o que não devo fazer nunca . E torço - como torço - para que os novos empreendimentos sejam bem sucedidos. Faço questão de voltar ou indicar um estabelecimento novo, no qual vejo os donos ralando, dando o sangue para fazer o negócio vingar.
Assim aprendi a importância da tal preferência , pois só agora sei a diferença que faz no final do mês as pessoas que te conhecem comprarem de você ( sejam livros ou viagens - meu marido tem agência)!
Portanto, vai aqui a minha dica: sempre que possível, dê preferência, os amigos agradecem!!!

Marcadores: , ,

segunda-feira, abril 14, 2008

Almodóvar na net

Crédito: Foto roubada do blog


Há algum tempo divulguei o blog de Blindness, filme em produção do Fernando Meirelles. Continuo acompanhando, é uma aula de cinema! E venho agora divulgar o blog do mestre Pedro Almodóvar, com versão em inglês e espanhol, contando sobre o dia a dia de seu novo filme, Abrazos Rotos. Pra quem curte cinema, e Almodóvar, é imperdível!



Marcadores: , ,

terça-feira, abril 01, 2008

SORRY, I CAN’T

Fabiana Marques


Após tantos anos ainda temia perder o controle para a ansiedade. Maldito sentimento que teimava vencê-la nas horas mais delicadas, nos momentos em que mais necessitava do absoluto controle de suas emoções.
Através da respiração, fruto dos anos de yoga, tinha aprendido a acalmar-se. Inspira, expira, inspira, expira. Pronto! Já podia ver claramente porque estava decidida a sair daquele lugar em menos de dez minutos. Seria tempo suficiente pra dizer o que precisava ser dito. Olhar nos olhos de Léo pela primeira e última vez depois da separação. Um medo cortante atravessou-lhe o coração. Inspira, expira, inspira...
Ao entrar no saguão do hotel, apressou os passos, mentalizando o monólogo minuciosamente preparado ao longo das últimas semanas. Aceitou o encontro, entrou no jogo de sedução, apenas por saber que não iria até o fim. Olhou para a mão esquerda, fitando a aliança dourada, como para não esquecer. Suspirou.

- Bom dia! Posso ajudá-la?
“Sim, me tire daqui, não me deixe subir” – pensou. – Sim, vou ao quarto 212 – disse.
- Claro senhora, ele está te aguardando. Segundo andar, saindo do elevador à esquerda.

Já no elevador examinou-se discretamente no espelho. Sentia-se bonita, um pouco mais velha e mais magra, mas ainda bonita. Adquirira bom gosto na escolha das roupas, seu penteado também acompanhava as tendências, ainda assim imprimia sua personalidade forte no que usava. Abriu um sorriso, gostava do que via no espelho, ele também iria gostar.
Parou por alguns segundos diante da porta. Dois um dois. Mais um exercício de respiração e tocou a campainha. Léo abriu imediatamente, esperava com um sorriso contagiante e a mesma cara de moleque que tinha lhe encantando anos atrás. Sentiu as pernas amolecerem e as certezas se esvaírem. Então se abraçaram.
Ele a tomou nos braços e por alguns segundos ela hesitou, tentando lembrar a lista extensa de motivos pelos quais não deveria estar ali, mas tudo pareceu muito vazio diante da urgência daquele beijo. Um beijo, daqueles que só eles sabiam dar. Um beijo com gosto de reencontro e desejo. Aspirou seu cheiro e percebeu uma onda de eletricidade se espalhar pelo corpo todo, como um longo arrepio, tomando-lhe as pernas e a consciência. Estava totalmente a mercê dos acontecimentos. Sussurravam frases desconexas. Seus corpos responderam aos impulsos em notável sintonia, como se dançassem uma coreografia ensaiada por muito tempo. E quando o calor e o tesão tornaram-se insuportáveis, ela conseguiu se desvencilhar.
Léo continuou buscando-a, como se aquilo fosse parte da brincadeira, uma peça no jogo de sedução. No entanto, ao fitá-la nos olhos percebeu a intensidade daquele olhar e pressentiu o que estava por vir. Suspirou, como se no fundo soubesse. Finalmente quebrou o silêncio:
- Diga. Pare de me olhar desse jeito!
- Eu tenho um discurso pronto, só não sei se vou conseguir...
- Ai, você me fode. Não íamos congelar tudo lá fora e aproveitar o momento?
- Eu tenho medo.
- Deixa de ser mulherzinha Ana. Você já é um mulherão.
- Você não tem medo?
- Mas medo é bom.
- Isso aqui é tão tentador, não é? Desligar da realidade cruelmente ordinária e viver por algumas horas a intensidade de uma paixão/tesão represada por seis anos.
- Huuum.
- Sentir de novo o gosto da sua boca e do seu corpo. O seu cheiro, o peso do seu corpo sobre o meu. Seus sussurros calientes nos meus ouvidos. Suas mãos me tocando em pontos que já conhecem tão bem. Você dentro de mim, eu dentro de você... Congelar tudo por algumas horas. Somente algumas horas. Parece tão fácil e tão óbvio...
- E não é? Pelo amor de Deus. É só não misturar alhos com bugalhos. Não precisa levar tudo tão a sério. – interrompeu-a com seu linguajar sempre inadequado.
- E como você consegue voltar para sua casa, para a sua mulher ?
- Pra ser sincero, eu acho que para ter um casamento duradouro, tem que “comer fora” de vez em quando. - disse e soltou um risinho malandro.

Sentada no cantinho da cama ela tentava se recompor. Embora tivesse perdido algumas horas de sono imaginando esse encontro, aliás, estremecendo inteira só de imaginar, não iria até o fim. Do que ele estava falando meu Deus? Quem era esse cara que não ouvia uma palavra do que ela dizia?
- Não vai dar Léo. Não vou dar.
- Por quê?
- Há uma lista infindável de motivos, mas o principal deles é que eu não conseguiria cumprir uma prerrogativa básica: não se envolver (ou não misturar alhos com bugalhos como vc diz). Um dos grandes baratos da maturidade é que passamos a nos conhecer melhor e saber nossos limites.

Ele apenas a observava, atônito. Não entendia como uma promissora tarde de sexo delicioso tinha se transformado numa sessão de terapia de casal. E ela continuou:

-Você é meu limite. Apesar de sentir esse tesão quase incontrolável, nunca foi o sexo que me motivou. O que vivi com você (sozinha - eu sei) foi uma história de amor. E essas coisas a gente não apaga. Elas ficam impressas na nossa memória afetiva. Sou muito intensa para passar um dia transando com você até à exaustão, e simplesmente ir embora para minha vida real como se nada tivesse acontecido. Comigo é tudo ou nada baby.

Levantou-se da cama e pegou a bolsa. Enquanto caminhava em direção a porta, Léo teve um ímpeto de segui-la, mas ela parecia tão decidida e segura, que perdeu o ânimo de confrontá-la. Limitou-se a observá-la partir, resignado.
Ana abriu a porta, olhou para ele pela última vez, ensaiou um sorriso e disse partindo:
- Sorry, I can’t.

Marcadores: ,