Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

quinta-feira, maio 17, 2007

As lições do Alzheimer

Outro dia caiu em minhas mãos um texto maravilhoso de uma jornalista americana da Newsweek sobre Alzheimer. Foi um dos únicos textos sobre o tema que me deixaram feliz, pois fala de como algumas pessoas, mesmo doentes, seguem dando lições àqueles que as cercam. Para quem não sabe tenho uma avó que sofre da doença há seis anos. Afortunadamente o diagnóstico da doença foi feito muito cedo e as medicações têm conseguido "brecar" o avanço da doença. Por enquanto ela ainda é minha sábia e fofa vovózinha, me reconhece, embora sua fragilidade se exponha em diversos momentos.
Qualquer conversa com ela dura no máximo cinco minutos. Depois disso, ela precisa repetir tudo de novo, uma, duas, três vezes. Até mudarmos a conversa e o processo começar novamente. Mas nesses cinco minutos em que ela absorve o assunto, continua esperta e cheia de bons conselhos para dar. No fim de semana passado, me advertiu: "A pior coisa que pode acontecer a uma sogra é ver seu filho com a camisa mal passada, o colarinho desgrenhado".
Imaginem vocês se algum dia de minha vida eu tinha notado as camisas do Juliano? Nunca, jamais. Prometi prestar mais atenção nisso e só nessa semana já vetei o uso de duas camisas muy mal passadas. Quem não vai gostar nada disso é minha empregada...
Outra lição, que sempre tive na minha família do lado materno é não tapar o sol com a peneira. Desde que me conheço por gente, tudo é falado na lata, sem subterfúgios ou entrelinhas. E mais uma vez foi assim. Após um almoço farto, minha avó não conseguiu se controlar e acabou fazendo xixi nas calças. Enquanto eu e minha mãe quase morríamos de preocupação e medo de como ela se sentiria, Dona Bel ria sem parar e exclamava "Cada coisa que passamos com a idade". Depois de tomar banho, vestida com um roupão ela ainda se perguntou algumas vezes o que estava fazendo sem roupa. Diante de cada resposta, sempre a mesma reação risonha. Durante o acidente de percurso chegaram em casa meu irmão e minha cunhada. Alertamos a vovó e ensaiamos um discurso sobre o fato dela estar de roupão. Para nossa surpresa e deleite ela respondeu que não tinha porque mentir: "Fiz nas calças mesmo, um dia eles ficarão velhos e vão entender, pra que mentir?".
Pois é, aos 82 anos a minha velhinha continua a me ensinar a viver....

terça-feira, maio 01, 2007

Quem sou eu?

Quanto mais passa o tempo, mais difícil responder a essa pergunta. 28 anos de perguntas sem respostas. As questões que me afligiam há 15 anos, continuam me afligindo, e agora outras mais se somam. Minhas verdades universais caíram por terra. O emprego dos meus sonhos, o amor da minha vida, a cidade que eu deveria morar, a presença de Deus na minha vida, meus pais como heróis, a minha melhor amiga. Tudo mudou e continua se transformando a cada dia, portanto a resposta que dou hoje, deve mudar amanhã.
Agora, depois de casada, me esforço para não perder a identidade. Mas quanto já não perdi? Do que realmente gosto e do que aprendi a gostar? Das minha atividades cotidianas, quais eu continuaria fazendo se não fosse meu marido? Onde eu moraria se ele não existisse? Quem é essa mulher casada que assina um sobrenome estranho e não se reconhece?
O que é ser feliz? Se for ter saúde, amor e uma família bacana sou feliz. Se for ter dinheiro e realização profissional, certamente sou infeliz. Mas não é nada disso. Ser feliz é ter um objetivo maior na vida, uma meta, um lugar para chegar. Isso não tenho e constatar essa verdade é dolorido e asfixiador.