As lições do Alzheimer
Outro dia caiu em minhas mãos um texto maravilhoso de uma jornalista americana da Newsweek sobre Alzheimer. Foi um dos únicos textos sobre o tema que me deixaram feliz, pois fala de como algumas pessoas, mesmo doentes, seguem dando lições àqueles que as cercam. Para quem não sabe tenho uma avó que sofre da doença há seis anos. Afortunadamente o diagnóstico da doença foi feito muito cedo e as medicações têm conseguido "brecar" o avanço da doença. Por enquanto ela ainda é minha sábia e fofa vovózinha, me reconhece, embora sua fragilidade se exponha em diversos momentos.
Qualquer conversa com ela dura no máximo cinco minutos. Depois disso, ela precisa repetir tudo de novo, uma, duas, três vezes. Até mudarmos a conversa e o processo começar novamente. Mas nesses cinco minutos em que ela absorve o assunto, continua esperta e cheia de bons conselhos para dar. No fim de semana passado, me advertiu: "A pior coisa que pode acontecer a uma sogra é ver seu filho com a camisa mal passada, o colarinho desgrenhado".
Imaginem vocês se algum dia de minha vida eu tinha notado as camisas do Juliano? Nunca, jamais. Prometi prestar mais atenção nisso e só nessa semana já vetei o uso de duas camisas muy mal passadas. Quem não vai gostar nada disso é minha empregada...
Outra lição, que sempre tive na minha família do lado materno é não tapar o sol com a peneira. Desde que me conheço por gente, tudo é falado na lata, sem subterfúgios ou entrelinhas. E mais uma vez foi assim. Após um almoço farto, minha avó não conseguiu se controlar e acabou fazendo xixi nas calças. Enquanto eu e minha mãe quase morríamos de preocupação e medo de como ela se sentiria, Dona Bel ria sem parar e exclamava "Cada coisa que passamos com a idade". Depois de tomar banho, vestida com um roupão ela ainda se perguntou algumas vezes o que estava fazendo sem roupa. Diante de cada resposta, sempre a mesma reação risonha. Durante o acidente de percurso chegaram em casa meu irmão e minha cunhada. Alertamos a vovó e ensaiamos um discurso sobre o fato dela estar de roupão. Para nossa surpresa e deleite ela respondeu que não tinha porque mentir: "Fiz nas calças mesmo, um dia eles ficarão velhos e vão entender, pra que mentir?".
Pois é, aos 82 anos a minha velhinha continua a me ensinar a viver....