A SAGA
Vinte e sete de dezembro de 2004, dez da manhã. Eu, meu namorido e Bá chegamos esbaforidos na agência de onde sairia nosso ônibus. O destino? Nossa amada Bahia, especificamente na praia de Pratigi, Universo Paralello, um festival de música eletrônica de seis dias. Duas horas depois o ônibus resolve embarcar para a viagem que supostamente duraria 25 horas ( como já se pode imaginar, não foi exatamente assim).
"Ônibus estranho com gente esquisita, eu não tô legal..."
Juliano e Bárbara formaram a minoria dos não-tatuados, grupo escasso também na festa. Com a exceção de dois casais e nós, o resto da turma de vinte e poucos anos estava pra lá de Bagdá querendo dar tudo de si antes mesmo de pisar em território baiano. Um coquetel de drogas e música eletrônica no mais alto volume foi apenas o começo daquilo que seria uma viagem
inesquecível. Pra começar, o ônibus quebrou três vezes e a viagem que duraria 25, durou 37 horas. Detalhe básico: sem ar!! Junte a isso umas dez doidas ( e um doido) que não deixavam a gente desligar ou diminuir o volume de trance-enjoativo-psicodélico.
A jornada foi longa e tortuosa, mas enfim chegamos ao nosso destino, ou quase. Fomos pra festa na boléia de um caminhão feito porcos e depois de quinze minutos chacoalhando : universo paralello à vista! Após certo tempo buscando o local ideal para montar nossa barraquinha, encontramos e... não sabíamos o que fazer com ela, quantos pauzinhos enfiar nos 288 buraquinhos ( sem conotação maliciosa por favor), mas graças a Deus já era tempo de começar a se divertir e os anjinhos da gurda trabalharam e nos trouxeram vizinhos-anjos que resolveram nosso problema (desse e de muitos outros dias a seguir). Party time!
A estrutura da festa surpreendeu. Dezenas de restaurantes montados, diversidade de comida, lojinhas, uma mega pista, um chill out aconchegante, duchas e toaletes espalhados pela fazenda de coqueiros, disponíveis para a população de mais de 4 mil pessoas flutuantes.
O cenário paradisíaco e o sol escaldante não deixaram a desejar. Nos sentimos realmente na Bahia e em alguns momentos chegávamos a esquecer que estávamos em um festival. Muita gente bacana, muita gente doida, gringos de todas as partes, topless, nudismo - Rica e sua mulher lindos e nus com direito a foto do flagrante-, acarajé, vegetariana, água, cerveja, vodcka, maconha, e, a, c, z... Tempo de liberar geral e se livrar dos poucos preconceitos que ainda me restavam ( mas existe um que será eterno: pó! Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe!!! Prefiro não ver, não ouvir e muito menos cheirar).
O Jú que não é fã de e-music se portou direitinho, mas também abandonei a pista de dança e encarei o festival sob outra perspectiva. Lá concluí que meus tempos de tranceira já eram. As bases repetitivas e psicodélicas me enjoam mais do que empolgam, senti falta de uma balada mais enérgica!
Fugimos no fim de um dia para a vila de pescadores, tomamos ceva gelada pela metade do preço e descobrimos um chuveiro com água doce. Fizemos amigos novos, encontramos velhos conhecidos, antigos amigos tornaram-se ilustres e patéticos desconhecidos.
Devido ao calor infernal e assustador, a barraca só era suportável durante a noite, o que fez com que nos recolhêssemos com as galinhas e acordássemos com os galos. Um dia, ao sermos expulso da cama pelo sol, fomos correndo para a praia nadar e nos refrescar. Depois de horas de sol e praia, bateu um calor violento e uma fome de almoço. Seguimos até a barraquinha mais próxima a fim de checar o cardápio, quando, para nossa surpresa, eles ainda serviam café da manhã. Ao indagar a hora, o susto: 9h30 da manhã!
Por tudo isso passamoa a virada de ano meio sonados, pulei minhas sete ondinhas, mas acabamos dormindo no chill out e fomos realmente aproveitar a partir da cinco da matina. Tomamos nossa única balinha do festival (que por sinal também já era) e curtimos o dia, que acabou em cerveja na pousadinha dos Djs, eu, jú, Bá e Ricardinho. Delícia.
Acordei no dia seguinte com o barulho da chuva, que entrou na barraca e molhou o colchonete. Foi a gota dágua. Encaramos um caminhão, dois ônibus e um barco para chegar em Barra Grande. Valeu a pena! Cidade bacanex, cheia de lojinhas, bares e restaurantes transados, além de uma praia linda. Conseguimos uma pousadinha por um preço justo e uma cama macia + chuveiro quente com água doce que foi o melhor presente que poderíamos ganhar. Os banheiros da festa mereciam um capítulo à parte, mas vou poupá-los, porque senão passarei a impressão errada de que reclamei mais do que me diverti.
Depois disso tudo, caminho de volta a prainha da festa , que não sei se contei, mas era uma fazenda particular de coqueiros e portanto deserta, ônibus, 35 horas - de novo sem ar- e casaaaaaaaaaaaaaa.