Meu Novo Cotidiano

Em eterna metamorfose, jornalista, professora de inglês e série-maníaca à procura de seu lugar no mundo. Por ora, aqui, me preparando para o maior desafio de todos: ser mãe!

terça-feira, junho 19, 2007

O dia em que vi a morte

Estava na livraria, checando meus emails quando escutei uns estampidos. Trabalhando no centro acabamos nos acostumando com os barulhos, mas aquele som era inconfundível até mesmo para alguém que como eu, nunca o ouvira. Levantei os olhos e vi uma correria na rua e um homem, a cinco metros de mim, com as duas mãos segurando uma arma apontada em minha direção. Nos separavam alguns centímetros de vidro e um corpo caído no chão. Tudo isso numa fração de segundos, saí gritando sem saber onde me esconder e o que fazer. Enfim, passado o choque inicial percebi o que tinha acontecido. Era um policial à paisana que acabava de matar um ladrão em frente à vitrine da livraria. Havia um morto na porta de nossa loja. Observei-o, entre assustada e hipnotizada e pude assistir a vida se esvaindo dele. Parecia uma balão se esvaziando, perdendo o gás. Imediatamente comecei a rezar. Em alguns segundos a rua estava tomada de curiosos e cheguei a temer um arrastão. Impressionante como a natureza humana é fria. Centenas de pessoas( inclusive eu) especulavam e comentavam o ocorrido sem qualquer respeito ao corpo estirado na calçada.

Minhas pernas ficaram bambas por mais de uma hora. E por mais de uma hora o corpo, transformado em cadáver, permaneceu separado de mim apenas por um vidro. Por todos os ângulos que analisei o ocorrido, só tive uma certeza. Deus me livrou dessa. Poderia ter sido eu - e graças a Ele, não foi.